terça-feira, 27 de novembro de 2012

Minha doce vingança - Cap.04 / I Want You!''



Point of view:Demi .
Cocei minha nuca pela enésima vez enquanto acompanhava a linha de palavras com a caneta naquela noite chuvosa. O livro aberto a minha frente não parecia dizer-me mais nada há algumas horas, e mesmo assim eu insistia em ler. Entrar em Harvard havia sido a realização do maior sonho da minha mãe e de minha família, e em partes até mesmo do meu. No início resisti e insisti em ser veterinária, porém depois de tantas promessas e recompensas decidi por seguir os passos da minha mãe, descobrindo uma verdadeira paixão por leis e tribunais, no entanto meu rendimento estava caindo consideravelmente depois que fui ameaçada. Pensei diversas vezes em contar para minha mãe ou até mesmo para a polícia, mas conhecia a fama dos Killa. O próprio nome da gangue já era amedrontador. Fechei o livro batendo um grupo de páginas contra as outras e levantei-me da cadeira indo até a porta. Ao caminhar em passos lentos até meu quarto, empurrei a porta com meu próprio corpo e sentei-me na beira da cama com a respiração pesada.

– O que houve contigo, Demi? – minha mãe sentou-se ao meu lado –

– Não consigo entender a lei 743 do código penal. – balancei a cabeça em tom negativo –

– Leis não são feitas para compreensão, Demetria. Apenas aceitamos. – deu de ombros –

–Certo... Certo. Agora me explique outra coisa. – virei-me para ela enquanto passava as mãos pelo cabelo ajeitando o mesmo na frente de meus ombros – Por que não condenou Justin a ficar mais tempo na cadeia?

– Eu gostaria de ter feito isso, acredite. – minha mãe ficava extremamente nervosa ao lembrar-se da situação – Mas ele era um vagabundinho menor de idade e não tinha mortes na ficha, apesar de ser muito perigoso e ser traficante. Até mesmo alguns promotores queriam vê-la livre e não posso arrumar inimizades no tribunal, mas não vai demorar muito até começar a roubar e vender drogas outra vez, e agora que já é maior de idade darei um jeito de condená-lo a prisão perpétua. – sorriu vitoriosa –

– Não acho que continuará fazendo isso. – lembrei-me da figura bem vestida e perfumada –

– Pessoas como Justin, que nascem em berço de ouro e abrem mão de tudo para fazer parte do mundo das drogas nunca mudam. – franzi a testa ao olhar novamente para minha mãe –

– Justin é rico?

– Rica? Demi, querida. – minha mãe riu – O pai de Justin é o maior empresário do país. Justin é herdeiro de bilhões de dólares. Por isso quando a condenei exigi que fosse inafiançável. Pedir um milhão de dólares como fiança seria pouco, o pai dele daria sorrindo.

– Como eles podem apoiar algo assim? – tapei o rosto com as mãos sentindo a apreensão me tomar novamente –

– Não apóiam, é claro, mas não tem pulso com o garoto e não acho que irá surpreender se tivermos notícia sobre a morte da mesma. Preciso ir, querida. – levantou-se e beijou-me no rosto – Estarei no fórum se precisar de alguma coisa.

Esperei minha mãe sair do quarto para afundar o rosto no travesseiro cogitando a hipótese de me suicidar. Todas as vezes que minha mãe ia trabalhar eu sentia como se metade do meu coração estivesse esperando uma notícia ruim, e aquilo era atormentador. Peguei meu celular no bolso do meu short e olhei o mesmo esperando por uma ligação que fosse. Tinha nojo de mim mesma ao lembrar-me do homem que acompanhava Justin deslizando a mão pela minha barriga, e o nojo era substituído por confusão com a lembrança do que aconteceu a seguir. Algo no rosto dele era indecifrável, e me senti aliviada em partes quando ele ordenou que ele tirasse a mão de mim. O selinho que havia sido dado em meus lábios me deixou ainda mais confusa, e com uma sensação de necessidade inexplicável. Ao ouvir pelo chamado, desci as escadas lentamente e abracei minha mãe controlando a vontade de chorar.

– Eu te amo, Demi.

– Eu te amo, mãe.

Acompanhei-a até a porta e observei a chuva cair intensa na rua. Voltei para meu quarto, tomei um banho e coloquei uma roupa

Peguei a chave do meu veículo encima da mesa e ao dar partida no mesmo, precisei de muito autocontrole para não dar a volta no meio do caminho. Não era a primeira vez que fazia aquilo, e sei que não seria a última. Ao passar enfrente ao fórum e conferir o carro da minha mãe perfeitamente estacionado, segui em direção ao Brooklyn. O relógio digital na minha BMW X5 marcava perto das 23:00. Olhei ao dentro do porta luvas quando estacionei o veículo e conferi que a arma estava lá. Liguei o aquecedor e o rádio e permaneci no banco do motorista por um bom tempo com a cabeça encostada no vidro enquanto uma música lenta impedia o total silêncio. Há duas semanas atrás, quando havia sido ameaçada por Justin, esperava que ela ligasse dizendo o que queria para deixar a mim e minha mãe em paz, mas nada acontecia. Desde então eu ficava ali parada, observando a distância a única saída do bairro e vigiando. Distrai-me por um tempo com a melodia suave na voz de Beyoncé e adormeci. Acordei com socos sendo disparados contra o vidro e quase arranquei com o carro ao deparar-me com o rosto de Justin enraivecido e molhado do lado de fora. Ele era divino. Os lábios tinham uma cor naturalmente atraente, e o olhar era extremamente profundo. O rosto em si parecia ser todo desenhado. Lindo!. Pensei por alguns segundos em pegar a arma, entretanto não teria tempo para atirar em ninguém antes que uma bala perfurasse minha cabeça. Com movimentos leves abri a porta e desci, trancando o veículo na própria chave que foi guardada em meu bolso e virei-me para ele

– O que você PENSA que está fazendo aqui? – empurrou-me contra a porta preta do carro –

– Nada. – sussurrei quando os dedos finos encaixaram-se em minha garganta –

– NADA? PORRA, VOCÊ TÁ DE SACANAGEM! – elaegritava com o rosto próximo ao meu – Pelo visto eu vou ter que acabar com você antes do que eu planejava! – abri mais os olhos quando uma certa pressão começou a me tirar o ar –

– Mas eu não fiz nada. – disse com dificuldade –

– Cala a boca.

– O que você quer de mim? Por favor, diga logo. – segurei nos pulsos quentes e forcei os mesmos para baixo inutilmente –

– Quero você. – ele sorriu, desconcentrando-me –

– Eu não... – engoli com dificuldade, as mãos dele não relaxaram nem mesmo um segundo – Não contei para ninguém. Deixe minha mãe em paz. – pedi com lágrimas nos olhos –

– Nada disso precisaria estar acontecendo se ela não tivesse se metido no meu caminho. – as palavras eram jogadas em mim – Nada! Mas aquela filha da puta precisou bancar a boazinha e mandou me prender.

– Bancar a boazinha? Você é um criminoso! Qualquer um mandaria te prender! – hesitei quando o aperto em meu pescoço se intensificou –

– NINGUÉM TE PERGUNTOU MERDA NENHUMA! Eu posso ser a merda que eu quiser, você entendeu? E se você não fizer tudo o que eu mando, eu não vou precisar pensar duas vezes antes de dar um fim nessa palhaçada.

– Você vai ser preso outra vez. – sussurrei –

– Irei com orgulho.

– Ok, digamos que eu... Concorde em ficar com você. – fechei os olhos quando senti o aperto me sufocar e sussurrei novamente com dificuldade – Deixará minha mãe fora disso?

– Acho que matar você será mais prazeroso do que levar você para a cama.

As duas mãos envoltas no meu pescoço fizeram meus olhos lacrimejarem com a força que pressionavam o mesmo, e então, sem entender como, tirei forças para inverter as posições e pressionar o corpo baixo de Justin contra a porta, também apertando o pescoço dele. A coisa se transformou em um jogo de forma que quanto mais ela apertava o meu, mais eu apertava o dele, porém minhas mãos eram maiores e aquilo me deu vantagem. Meus olhos se fecharam e meu corpo alertou que eu estava perto de desmaiar quando num segundo ela caiu. Afastei-me o suficiente para vê-lo caído ao lado do meu carro sem vida. Engoli em seco ao olhar ao redor procurando algum sinal dos outros garotos que deveriam estar acompanhando Justin e me desesperei quando não vi ninguém. Ajoelhei-me ao lado dele procurando algum sinal de respiração, entretanto ele estava imóvel. Peguei o braço esquerdo tocando abaixo do dorso da mão e foi impossível controlar as lágrimas ao sentir o pulso quase inexistente. Eu poderia deixá-laomorrer, pegar meu carro e fugir sabendo que metade de um país iria comemorar com aquilo, mas eu seria tão ruim e cruel quanto ele. Era uma pessoa morrendo. Criminoso ou não, continuava sendo uma vida, o direito de tirar vidas é de Deus. Abaixei-me cuidadosamente usando uma das mãos para tapar o nariz desenhado e com a outra puxei o queixo para baixo, deixando a boca de Justin entreaberta antes de começar a estimular a respiração. Aos poucos, o ar estava sendo puxado violentamente pela mesma e quando os lábios macios roçaram nos meus e moveram-se na busca de oxigênio, meu corpo gritou por um beijo. Aproveitando o estado ainda um tanto quanto inconsciente, permiti a mim mesma deslizar minha língua através da boca receptiva e para a minha surpresa, o braço do garoto foi erguido e a mão segurou meu rosto quando tentei afastar-me. Beijar Justin era como comer algodão doce. A língua dele tocava a minha como se fosse feita de açúcar, e apesar de estar dominada pelo medo, eu não conseguia me afastar. Era bom demais para que eu me afastasse. Então de repente ele empurrou-me sem muita brutalidade.

– Se você não for embora eu serei obrigado a te matar.

Ainda hesitei alguns segundos olhando os lábios avermelhados, entretanto observei ao longe figuras se movendo na escuridão e dei um último selinho na boca macia antes de entrar no carro e dirigir sem nenhuma segurança de volta para casa. Já com o veículo devidamente estacionado na garagem, uma crise de choro rompeu minha garganta e eu abaixei a cabeça contra o volante, permitindo que as lágrimas escorressem sem esforço através do meu rosto. Eu precisava encontrar um jeito de fazer aquele garoto mudar de idéia, e eu iria encontrar. Mesmo que ela tivesse o poder de me deixar um tanto quanto anestesiada diante daquele olhar e de tamanha beleza.

Continuaa...

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